A Eletrobras reintroduzirá, no período de três anos, 76 mil espécimes de Piabanha (Brycon insignis) e Surubim-do-Paraíba (Steindachneridion parahybae), peixes ameaçados de extinção, na bacia do rio Paraíba do Sul, entre os estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro. Com investimento de R$ 4,3 milhões, a iniciativa atende condicionantes da Licença de Operação ambiental das usinas hidrelétricas de Anta e Simplício.
A primeira soltura está programada para ocorrer no período entre julho e agosto deste ano. Em 2025, serão liberados 15 mil alevinos de Piabanha e 5 mil de Surubim-do-Paraíba. A partir do segundo ano do projeto, os números sobem para 20 mil e 8 mil indivíduos, respectivamente, totalizando 76 mil peixes ao longo dos três anos iniciais do programa.
“A Eletrobras concilia a geração de energia com a conservação ambiental, promovendo o desenvolvimento sustentável em parceria com as comunidades que vivem no entorno das nossas instalações”, afirma o diretor de Licenciamento Ambiental e Condicionantes da empresa, Jader Fernandes de Jesus.
De acordo com Cláudio Lopes Soares, biólogo da Eletrobras e coordenador do projeto, a soltura das espécies é um passo importante para a recuperação da biodiversidade local. Ele explica que um dos objetivos da iniciativa é garantir a restauração populacional com variabilidade genética dos exemplares para perenizar a Piabanha e o Surubim-do-Paraíba na região do Médio Paraíba.
“Essas espécies são essenciais para o equilíbrio bioecológico da bacia do Paraíba do Sul. Suas populações sofreram drástica redução a partir da década de 1950 devido a fatores como degradação ambiental, pesca predatória, poluição e a introdução do Dourado (Salminus brasiliensis), espécie exótica que é predadora da Piabanha”, explica o especialista.
Realizado em parceria com o Projeto Piabanha, organização que se dedica à recuperação da ictiofauna do Paraíba do Sul, com sede em Itaocara (RJ), o trabalho compreende quatro etapas: além da reintrodução experimental, haverá ações de educação ambiental, análise do perfil genético e monitoramento dos exemplares reintroduzidos.
Os peixes serão identificados por meio de marcação externa colorida e numérica na pele, permitindo o acompanhamento de sua distribuição, deslocamentos, reprodução e sobrevivência ao longo do tempo. Também serão realizadas análises genéticas e campanhas periódicas de amostragem para avaliar a saúde e adaptação dos indivíduos ao ambiente natural.
As solturas ocorrerão em locais específicos para cada espécie. As Piabanhas serão reintroduzidas na calha principal do rio, pois necessitam de áreas livres para estabelecer populações saudáveis. Já os Surubins serão soltos após a barragem da Usina de Anta, entre os municípios de Sapucaia (RJ), Chiador (MG) e Além Paraíba (MG). Esta região apresenta pedrais e corredeiras, configurando um habitat mais adequado para a espécie.
Para conscientizar a população sobre a importância da conservação do Surubim-do-Paraíba e da Piabanha, a Eletrobras e o Projeto Piabanha realizarão atividades educativas - com palestras, exibição de vídeos e exposições de trabalhos - em escolas e colônias de pescadores da região. Uma das ameaças ao sucesso da iniciativa é a pesca dos exemplares reintroduzidos no Paraíba do Sul.
“Nosso objetivo, neste momento, não é fomentar a pesca. No futuro, é possível que a Piabanha e o Surubim-do-Paraíba voltem a fazer parte dos estoques pesqueiros do rio, gerando renda para as famílias que vivem da pesca artesanal”, afirma Claudio Lopes.
O projeto conta com o apoio do Instituto Chico Mendes de Conservação de Biodiversidade (ICMBio), por meio do Plano de Ação Nacional para Conservação das Espécies Aquáticas da Bacia do Rio Paraíba do Sul (PAN Paraíba do Sul), e tem a autorização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA).