A energização da Linha de Transmissão Manaus–Boa Vista, iniciada nesta quarta-feira (10), encerra décadas de isolamento energético de Roraima e conecta o último estado brasileiro ao Sistema Interligado Nacional (SIN). O Linhão representa um avanço estratégico para o Brasil ao permitir o fornecimento de energia renovável, segura e mais barata para Roraima, com sustentabilidade ambiental e modicidade tarifária.
Com a entrada em operação do Linhão, estima-se a redução de cerca de 280 mil toneladas de CO₂ decorrentes de geração não-renovável a cada ano. Além disso, o empreendimento colabora com a liderança do Brasil na transição energética e amplia o acesso à internet de qualidade na região, já que a infraestrutura abrirá caminho para expansão da rede de fibra óptica no estado. Com investimento de R$ 3,3 bilhões, a linha de transmissão de 724 km de extensão foi construída pela concessionária Transnorte Energia (TNE), que tem como acionistas a Eletrobras, que lidera o negócio com 64,6% de participação, e a Alupar.
“A entrega da Linha de Transmissão Manaus–Boa Vista é estratégica para o setor elétrico e reafirma a capacidade da Eletrobras, ao lado de seus parceiros, de realizar projetos estruturantes com alta complexidade técnica, logística, ambiental e social. A interligação de Roraima ao SIN é um feito histórico e uma resposta à necessidade da região, mas também um passo relevante para a eficiência do sistema, redução de custos estruturais e valorização dos ativos em um mercado cada vez mais dinâmico e orientado à sustentabilidade”, avalia Ivan Monteiro, presidente da Eletrobras.
Já o presidente da Alupar, Paulo Godoy, considera que “a TNE representa um projeto emblemático para o setor elétrico brasileiro e um marco histórico na trajetória da Alupar já que, ao integrar o último estado isolado ao Sistema Interligado Nacional (SIN), amplia a segurança energética, promove inclusão e impulsiona o desenvolvimento sustentável do estado de Roraima e do país, reduzindo custos aos consumidores e a necessidade de geração local emergencial”.
Segundo ele, “sua implantação reflete a disciplina e a reconhecida capacidade de execução da Alupar, em conjunto com nossos parceiros e com o envolvimento ativo das comunidades locais, que tiveram papel essencial na concretização desse avanço para o Brasil”.
A conclusão da obra representa um avanço institucional inédito no setor elétrico. Com o reequilíbrio econômico-financeiro do contrato de concessão, em reconhecimento à complexidade e aos impactos advindos do longo período de paralisação das obras, a Receita Anual Permitida (RAP) do empreendimento foi revisada para R$ 561,7 milhões e a concessão foi alongada de 17 para 27 anos, o que garantiu viabilidade ao projeto, e privilegiou o consumidor final, via modicidade tarifária.
O projeto ainda contou com financiamentos expressivos, com a injeção de R$ 800 milhões do Fundo Constitucional de Financiamento do Norte – FNO e R$ 1,7 bilhão do Fundo de Desenvolvimento da Amazônia – FDA, primeiro repasse do FDA pela CAIXA e valor recorde de desembolso do Fundo.
Projeto paradigmático e sustentável
Desde a retomada das obras, em setembro de 2022, o projeto, que tem 122 km de extensão do Linhão na Terra Indígena Waimiri Atroari, contou com a participação ativa dos indígenas. Eles acompanharam todas as etapas do licenciamento e da execução, inclusive com atuação direta no planejamento e na fiscalização das atividades realizadas em seu território.
Um exemplo foi a instalação das torres de transmissão, cuja localização foi definida em conjunto com as lideranças indígenas. Para privilegiar áreas de vegetação secundária, as torres foram posicionadas próximas à faixa de domínio da BR-174 e a distâncias que variaram entre 30 e 50 metros.
Para reduzir a intervenção ambiental, as praças de obras foram projetadas com dimensões menores do que as tradicionalmente utilizadas. Todas as torres que cruzam a Terra Indígena são autoportantes e alteadas, com cerca de 100 metros de altura, o que viabilizou a passagem dos cabos condutores acima das copas das árvores. Além disso, o lançamento dos cabos foi feito com o uso de drones e dispensou a necessidade de abertura de faixas contínuas de serviço entre as torres.
Além de todo o respeito e cuidado técnico, com as outras ações ambientais foi possível concluir a obra com o reflorestamento de 165 hectares de floresta recuperada no Território Indígena.
Complexa por todas as suas vertentes, a implantação do Linhão – no prazo repactuado e em condições de equilíbrio para todas as partes envolvidas – atesta a capacidade brasileira de empreender e realizar grandes obras de infraestrutura.